É curioso que quando estou só, a "solidão" chega a ter uma perfeição peculiar. .. Uma perfeição capaz de me fazer sentir plena, como se o vazio me preenchesse de uma maneira única, permitindo-me ser completamente eu, sem filtros, sem expectativas.
Lembro-me sempre de uma poema que diz" Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite."
Nesta fase da minha vida, viver só, deixou de ser um peso e tornou-se na grande vantagem daquela casa que me abraça confortavelmente. Eu gosto deste silêncio de estar comigo, porque comigo tudo faz sentido, mesmo na ausência de tudo o que gosto e amo. É no silêncio deste estar, que me sinto leve, sossegada, sem distrações, sem vozes alheias, sem comandos, sem depender da opinião de quem quer que seja, nem ter de dar satisfações... Apenas eu e os meus pensamentos—sem medos, sem inseguranças, sem ciúmes, sem dores, sem vontade de chorar, sem saudades do que quer que seja, porque eu comigo, sou imensa..
Aqui, nesta casa de que me visto, sinto o peso da lucidez, sinto-me eu, sem refrear as palavras, nem as ações, pertenço-me por inteiro, não tenho necessidade de me dividir com ninguém. Encontro paz na solidão que todos temem. Sinto-me tão em casa que fico dividida entre o estar assim neste sabor delicioso que é o silêncio, ou arriscar manter a porta aberta a outras vozes. Este olhar que, para todos parece o nada, a mim faz-me repensar tudo.... Dado que o tudo é, uma grande responsabilidade para a qual temo não estar preparada.
